Adoração

No pensamento da maioria das pessoas a adoração é qualquer coisa ligada com ritos e cerimônias, de modo que muitas deixam de apreciar o fato de que a verdadeira adoração é uma coisa do coração, uma emoção da alma.

A oração é um exercício espiritual de grande valor para quem sente as suas fraqueza e necessidade; a ação de graças convém àqueles que têm recebido grandes bênçãos de Deus; mas a adoração é uma coisa mais sublime do que qualquer uma dessas, porque tem em vista não apenas as obras de Deus — aquilo que Ele tem feito ou possa ainda fazer —, mas a Pessoa mesma do próprio Deus, as Suas perfeições e glórias.

Meras formalidades nunca podem satisfazer o coração dAquele que por amor imenso e eterno deu tudo para promover a bênção dos homens. O amor manifestado na cruz de Cristo merece uma resposta maior e mais perfeita do que aquela que possa resultar de qualquer ritual por mais bem elaborado que seja.

De alguns que se gloriavam nas suas cerimônias e no seu ritualismo, o nosso Senhor disse: “Em vão me adoram” (Mt 16:9); e a alguém que representava um povo que, desde longo tempo, fazia constante questão do lugar do culto, Ele disse: “Vós adorais o que não sabeis” (Jo 4:22). O coração não pode adorar a um Deus que não conhece.

Mas o conhecimento de Deus para o coração principia com o sentimento da sua culpa e a doce confiança de que o sangue de Jesus Cristo a tem removido completamente; isso por sua vez dá tranquilidade completa e perfeita à consciência, e livra o coração de todo o medo.

Em seguida, tendo já apreciado as dádivas do amor divino, Aquele que tão ricamente o tem abençoado — o próprio Deus — torna-se tudo para a alma. E quanto melhor o coração conhece a Deus, tanto mais profunda será a adoração que ele Lhe prestará. “Deus, que é a minha grande alegria” — disse o salmista (Sl 43:4). “Também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” — diz o apóstolo (Rm 5:11).

Mesmo que a ideia de adoração seja essencialmente a mesma em todas as épocas, há, contudo, diferenças que se pode notar a seu respeito nas várias épocas ou dispensações, que se têm sucedido nos caminhos de Deus com os homens. Assim os patriarcas adoraram a Deus como o Todo-poderoso. O povo de Israel O adorava como Jeová (ou: o Senhor, Javé), enquanto que a nós, cristãos, nos é dado conhecermo-Lo como Pai, visto o Filho Unigênito, que está no seio do Pai no-Lo ter revelado em todo o Seu amor.

Também nos tempos dos patriarcas, a adoração era exclusivamente um privilégio e costume da própria família, não havendo nenhuma coisa que correspondesse a reuniões públicas para esse fim. Entre o povo de Israel, a adoração tomava, por assim dizer, um caráter nacional e nenhuma diferença se fazia para esse fim entre os convertidos e os não-convertidos. Já no cristianismo, a adoração é o privilégio daqueles que têm sido chamado por Deus das trevas para a Sua maravilhosa luz, e constituídos por Ele mesmo membros da Sua Igreja. Somente esses podem conhecer o santo gozo da verdadeira adoração.

O Espírito Santo é o poder de adoração como o é também de todo exercício espiritual. Como um grande e hábil músico, Ele toca sobre os corações daqueles que têm conhecido e recebido a graça infinita de Deus, e Ele produz uma harmonia doce e agradável aos ouvidos de Deus Pai e de Seu Filho Jesus Cristo. O próprio Senhor Jesus disse a respeito dos verdadeiros adoradores: “O Pai procura aos tais que assim o adorem” (Jo 4:23). É, na verdade, maravilhoso que Deus Pai ache prazer nos sacrifícios espirituais dos filhos dos homens, mas a presença no santuário celeste do grande Sumo-Sacerdote, Jesus, o Filho de Deus, explica tudo isso. É por Ele que a adoração do Seu povo sobe a Deus Pai: as perfeições da Sua Pessoa e da Sua obra dão valor e eficácia perante Deus a tudo quanto sobe dos corações alegres do Seu povo redimido.

Lembremo-nos, prezados irmãos, do desejo expresso do Pai: “O Pai procura adoradores, que assim o adorem”. Agradecemos-Lhe as Suas dádivas; louvamo-Lo pelos Seus feitos maravilhosos; mas adoramo-Lo pelo motivo daquilo que Ele é em Si mesmo.

Extraído da revista “Leituras Cristãs”, edição 23, ano 1926/27. Esse artigo e muitos outros dessa revista preciosa você encontra, clicando aqui.